Comentário ao Capítulo 5 da Carta de Paulo aos Romanos. Após estudar o
capítulo cinco da carta de Paulo aos Romanos será possível ao leitor divisar
como todos os homens tornaram-se pecadores, e como é possível ser participante
da graça de Deus. O leitor também estará apto a verificar qual é a condição dos
que estão em Cristo, e a condição daqueles que continuam inimigos de Deus.
Romanos 5
Introdução ao Capítulo 5
Antes de prosseguirmos na análise versículo a versículo, faz-se necessário
observarmos como Paulo estruturou a escrita da carta aos Romanos.
A primeira abordagem de Paulo sobre a justiça de Deus pela fé em Cristo
se dá no capítulo 1, versos 16 à 17. Em seguida, o apóstolo passa a demonstrar
que todos os homens pecaram e foram destituídos da glória de Deus em Adão ( Rm
1:16 à Rm 3:20 ). Após demonstrar que diante de Deus todos os homens
tornaram-se escusáveis (judeus e gregos), o apóstolo volta a abordagem inicial:
a justificação pela fé. Observe:
1º) "Não me envergonho do evangelho, pois é poder de Deus para
salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego. Pois
nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé" ( Rm 1:16 -17).
2º) "Mas agora se manifestou sem a lei, a justiça de Deus, tendo o
testemunho da lei e dos profetas. Isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus
Cristo para todos [e sobre todos] os que crêem. Não há distinção" ( Rm
3:21 -22).
Percebe-se que no intervalo argumentativo entre os dois textos acima,
Paulo apresentou elementos que demonstram que todos os homens tornaram-se
culpáveis diante de Deus.
Também é possível pontuar os elementos presentes nos dois textos acima:
No capítulo 1, versos 16 à 17, Paulo demonstra que a justiça de Deus se alcança
por meio da fé sem qualquer distinção entre judeus e gregos. Da mesma, o
capítulo 3, versos 21 à 22 continua demonstrando que a justiça de Deus é para
os que crêem sem distinção alguma entre judeus e gregos.
Em seguida, o apóstolo apresenta uma argumentação precisa e concisa
sobre os motivos da justificação ser pela fé ( Rm 3:23 -27), e uma conclusão: "Concluímos, pois, que
o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei" ( Rm 3:28 ).
No capítulo 4, o apóstolo apresenta exemplos de justificação pela fé no
A. T.: Abraão e Davi, ou seja, Paulo evoca a autoridade da Escritura para dar
sustentação a sua argumentação ( Rm 4:1 -25).
Desta forma, chegamos ao capítulo 5, onde o apóstolo volta à exposição
argumentativa do início da carta, quando apresentou a idéia da justificação
pela fé "TENDO sido, pois, justificados pela fé..." ( Rm 5:1 ).
Isto demonstra que a exposição de Paulo é focada sobre um tema: a
justificação pela fé em Cristo, sem qualquer distinção entre judeus e gregos. A
abordagem de Paulo sobre a justificação pela fé sem distinção alguma entre
judeus e gregos é debatida do capítulo 1 ao 4.
A abordagem do capítulo 5 também é sobre a justificação pela fé, porém,
sem o foco das discussões provenientes da diferenças entre judeus e gregos, que
motivou o apóstolo a demonstrar que em Cristo não há distinção alguma entre
judeus e gentios.
Nos quatro primeiros capítulos Paulo demonstrou que todos os homens
pecaram, e no capítulo cinco, ele retroage no tempo para demonstrar onde e em
quem todos pecaram ( Rm 5:12 -21). Diferentemente dos quatro primeiros
capítulos que focam a problemática da lei, da fé, dos judeus e dos gentios, o
capítulo cinco apresenta qual é a condição daqueles que agora estão em Cristo (
Rm 5:1 -5), e qual era a condição do homem antes de terem um encontro com
Cristo por meio do evangelho ( Rm 5:6 -6; 8 e 10).
Conclui-se que, após estudar o capítulo cinco da carta de Paulo aos
Romanos, será possível divisarmos como todos os homens tornaram-se pecadores, e
como é possível ser participante da graça de Deus. O leitor também estará apto
a verificar qual é a condição dos que estão em Cristo, e a condição daqueles
que continuam inimigos de Deus.
Capítulo V
1 TENDO sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso
Senhor Jesus Cristo;
Não é correto nos pautarmos nas divisões de textos como capítulos e
versículos quando da interpretação das cartas bíblicas. Ao analisar o texto,
não podemos atrelar a análise tão somente a um capítulo ou a um, dois ou três
versículos. Antes, a análise de qualquer versículo ou frase deve ser
considerada dentro do contexto geral da carta.
Precisamos estar atentos, pois as divisões em versículos e capítulos
acabam por influenciar a leitura bíblica. As divisões em capítulos e versículos
devem ser considerados somente como auxilio para localização e referenciamos
certos textos.
A observação anterior é válida na análise deste capítulo. Quando o
apóstolo diz: "Tendo sido, pois, justificados pela fé..." ( Rm 5:1 ),
ele termina uma argumentação e introduz uma nova idéia.
Quando o apóstolo escreve 'Tendo sido, pois, justificados pela fé...',
ele dá por encerrada a discussão sobre a superioridade dos judeus, ou que
somente os gentios eram pecadores, ou que a justiça de Deus era proveniente da
lei mosaica.
Ao ser justificado pela fé em Deus, as questões abordadas anteriormente
passam à segundo plano, uma vez que não há distinção alguma entre gentios e
judeus. "Sendo, pois, justificados pela fé..." remete à versículos
anteriores ( Rm 1:16 -17 e Rm 3:21 -22), e apresenta um novo aspecto da
justificação pela fé.
Os cristãos pela fé adquiriram paz com Deus, por intermédio de Cristo
Jesus. Por meio da fé os cristãos são declarados justos e obtiveram paz com
Deus. A condição alcançada em Cristo contrasta com a condição apresentada no
verso 10.
2 Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos
firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.
Desde já, vale observar que, ao falar da salvação em Cristo, Paulo
apresenta a condição dos cristãos (paz com Deus), para depois apresentar como
alcançaram tal condição (pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça).
Ou seja, durante a análise da carta aos Romanos, demonstraremos que,
geralmente, o ponto de partida para o apóstolo apresentar o plano da salvação é
o da condição alcançada (paz com Deus), e em seguida, ele retroage até
demonstrar qual era a condição anterior (inimizade).
Por intermédio de Jesus os cristãos têm entrada a esta graça, ou seja,
alcança a graça da justificação e amizade com Deus pela fé. Este versículo
demonstra que por Cristo e pela fé os cristãos recebem a graça de Deus, e o
verso anterior fixa-se em demonstrar a graça alcançada: justificação e amizade
com Deus.
Paulo reitera que ele e todos quantos estão em Cristo (...também
temos...), estão firme na graça proveniente do evangelho (...na qual estamos
firmes...). Enquanto muitos se gloriam das questões relativo à carne ( 2Co
11:18 ), os cristãos gloriam-se na esperança proposta por meio do evangelho.
Embora o apóstolo não volte a falar que não há diferenças entre gentil e
judeu explicitamente, ele acaba por falar de modo velado destas distinções
promovidas pelos homens, e não por Deus. Gloriar-se na esperança da glória de
Deus é uma das maneiras de trazer à lembrança dos cristãos àqueles que se
vangloriam da carne.
3 E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo
que a tribulação produz a paciência,
Enquanto os da fé gloriam-se na esperança proposta e nas tribulações, os
segundo à carne gloriam-se em questões meramente humanas "Pois que muitos
se gloriam segundo a carne, eu também me gloriarei" ( 2Co 11:18 );
"Se convém gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito à minha
fraqueza" ( 2Co 11:30 ).
Enquanto os da carne buscavam elementos para gloriarem-se na carne dos
irmãos em Cristo "Porque nem ainda esses mesmos que se circuncidam guardam
a lei, mas querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne"
( Gl 6:13 ), Paulo demonstra que o cristão deve gloriar-se tão somente na cruz
de Cristo, esperança da glória "Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não
ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado
para mim e eu para o mundo" ( Gl 6:14 ).
4 E a paciência a experiência, e a experiência a esperança. 5 E a
esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos
corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.
Esta relação entre tribulação, paciência, experiência e esperança também
foi abordado por Pedro e Tiago, porém, cada um à sua maneira:
"Meus irmãos, tende por motivo de grande gozo o passardes por
provações, sabendo que a prova da vossa fé desenvolve a perseverança. Ora a
perseverança deve terminar a sua obra..." ( Tg 1:2 -4).
"Nisto vos exultais, ainda que no presente, por breve tempo, se
necessário, sejais contristados por várias provações. Essas provações são para
que a prova da vossa fé (...) redunde para louvor, glória e honra na revelação
de Jesus Cristo" ( 1Pe 1:6 -7).
A fé é a 'entrada' à graça de Deus, que pela esperança proposta concede
forças para suportar as tribulações ( Hb 12:2 ).
Quando o apóstolo diz que 'a esperança não traz confusão', ele aponta
para o Espírito Santo, que foi concedido através do amor de Deus. Ao escrever
este verso Paulo tinha em mente a declaração feita aos cristãos de Éfeso:
"Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o
evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o
Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção
da possessão adquirida, para louvor da sua glória" ( Ef 1:13 -14).
O penhor geralmente é equivalente ao valor da dívida, e Paulo demonstra
que os cristãos já haviam recebido o que é infinitamente superior à herança: o
Espírito Santo de Deus.
O Primeiro e o último Adão
"Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em
alma vivente; o último Adão em espírito vivificante" ( 1Co 15:45 )
Adão e Cristo são os dois personagens de maior importância para a
interpretação bíblica. Grande parte das parábolas de Jesus e das figuras do
Novo Testamento são referências específicas aos eventos no Éden e da cruz,
ilustrando as conseqüências destes eventos para a humanidade.
Um exemplo é a parábola dos 'dois caminhos', que, implicitamente, faz
referência as conseqüências decorrentes dos eventos que sucederam no Éden e na
cruz. Observe: Adão foi feito (criado) alma vivente, porém, após desobedecer a
determinação divina passou a condição de morto perante Deus. A 'nova' condição
de Adão após a queda passou a ser de sujeição ao pecado pela natureza
adquirida.
A sujeição ao pecado deixou Adão em inimizade com Deus, e por causa da
condenação deixou de ser participante da vida que há em Deus e passou a viver
para o mundo e suas concupiscências (morto para Deus e vivo para o mundo).
Todos os nascidos de Adão (nascidos da carne, vontade do varão e do
sangue) passaram a condição de filhos da ira e da desobediência. Todos os
homens estavam destituídos da glória de Deus, pois todos pecaram.
Esta condição pertinente à toda humanidade é ilustrada através da
parábola das duas portas e dos dois caminhos, ou seja, todos os homens ao
nascerem, por serem descendentes de Adão, entram pela porta larga, e seguem
pelo caminho espaçoso que conduz à perdição ( Mt 7:13 ).
Em Adão todos os homens morreram e destituídos estão da glória de Deus.
Em Adão, a 'porta larga', todos os homens seguem o caminho de perdição. Todos
os homens morreram em Adão e passaram a viver para o pecado, para o maligno e
para o mundo.
Porém, através do último Adão, que por Deus constitui-se espírito
vivificante, todos os que crêem entram pela porta estreita, ou seja, nascem de
novo. São criados por Deus em verdadeira justiça e santidade, segundo o poder
concedido através do evangelho, sendo feitos (criados) filhos de Deus ( Jo 1:12
).
Estes passam a trilhar o caminho estreito que conduz à vida. O caminho é
estreito e poucos entram por ele, ou seja, quando se fala em quantidade, muitos
vem ao mundo segundo Adão, e poucos são os que crêem para a salvação, segundo o
último Adão, que é Cristo.
Em números absolutos, em Adão todos morreram, e em Cristo, o último
Adão, todos quantos crerem também morrem. Em Adão toda a humanidade morreu e
passou a viver para o mundo, em Cristo, o último Adão, todos os que crêem,
morrem para o pecado, para o maligno e para o mundo, e são de novo criados, e
passam a viver para Deus. Amém.
Outro exemplo, é a figura dos vasos, conforme Paulo escreveu aos
Romanos, veja: "Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma
massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?" ( Rm 9:21 ). Como entender esta figura apresentada
por Paulo?
Sabemos que Deus é o oleiro, e é Ele que detém o poder sobre o barro,
que é o homem. Todos os homens decorrem de uma mesma massa, ou seja, todos são
alma viventes conforme Adão.
Todos os homens que vêem ao mundo são criados pelo poder de Deus, porém,
por serem descendentes de Adão, todos são feitos vasos para desonra. Todos os
descendentes de Adão são vasos para ira, preparados para perdição. Através
deles Deus demonstra a sua ira, e dá a conhecer o seu poder, suportando-os com
muita paciência.
Deus chama pacientemente os vasos preparados para a ira a fim de
torná-los vasos para honra, ou seja, o evangelho é o chamado de Deus a todos os
homens nascidos segundo Adão. Todos os cristãos foram chamados por Deus, e
neles é demonstrado o poder de Deus e as riquezas de sua graça. Todos os que
são chamados e crêem são os vasos de misericórdia, e, portanto, vasos para a
honra.
Observe que, tanto os nascidos em Adão e os nascidos em Cristo
constituem-se vasos e são formados da mesma massa como nos afirma ( 1Co 15:46 )
"Mas não é primeiro o espiritual, senão o natural; depois o
espiritual". Todos os homens precisam ser feitos almas viventes (homem
natural), para depois serem criados espirituais (homem espiritual).
Quando criados, os homens naturais passam à condição de escravos do
pecado, por causa do pecado de Adão. Percebe-se então que, o grande diferencial
é que, os nascidos segundo Adão são vasos para a desonra, e os nascidos em
Cristo são vasos para honra.
Quando o leitor não compreende a verdade sobre os eventos da cruz e do
Éden, acaba por interpretar a bíblia erroneamente. Ao deparar-se com parábolas
e ilustrações como as apresentadas acima, terá um entendimento segundo uma
concepção humana, e permanecerá enfatuado, segundo uma carnal compreensão.
Muitos interpretam que a porta é larga porque as pessoas do mundo estão
entregues aos prazeres, são sensuais, céticas e criminosas. Entendem que a
porta é larga por não apresentar 'dificuldades' ou condições para entrada.
Entendem que o caminho estreito esta diretamente relacionado com dificuldades,
proibições, restrições de ordem moral, comportamental e religiosa.
Entendem que, para trilhar o caminho estreito, ou que, para entrar pela
porta estreita basta seguir preceitos religiosos, cumprir leis nacionais, ou
seguir filosofias de vida.
Diante deste entrave surgem muitas religiões, igrejas e denominações. Se
avolumam os discursos sobre disciplina, sofrimento, penitências, orações,
rezas, moralidade, santidade, serviço, pró-atividade. As qualidades procedentes
do ego humano são louvadas insistentemente, como: coragem, determinação,
empenho, disciplina, resignação, etc.
O ritualismo, o formalismo e o legalismo são ferramentas utilizadas para
caracterizar devoção religiosa. Criam mecanismos para medirem e serem medidos. e
força outros a seguirem o que preceituam como necessário à salvação.
Estabelecem padrões de justiça e santidade a ser seguido. Procuram lições
provenientes do paganismo e das filosofias humanas.
Esquecem de observar o que Jesus disse a Nicodemos: "Em verdade, em
verdade te digo que quem não nascer de novo, não pode ver o reino dos
céus" ( Jo 3:3 ). Não observam que o 'melhor' da religião, da lei, da
moral, do comportamento não faz o homem agradável a Deus, e por tanto, a
recomendação de Jesus a um dos mestres do judaísmo.
O mundo ainda continua apegado a elementos fracos e pobres, que não pode
livrar o homem da condição de sujeição ao pecado ( Gl 4:9 -10).
O apóstolo Paulo demonstra estar consciente das conseqüências decorrente
da desobediência de Adão e da obediência de Cristo ao escrever aos cristãos de
Corinto ( 1Co 15:45 -50).
Ao escrever a Timóteo, Paulo alerta sobre este pretenso 'evangelho':
"Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos alguns
apostatarão da fé (...) que proíbem o casamento, e ordenam a abstinência de
alimentos" ( 1Tm 4:1 -3).
Esta análise se fez necessário, visto que, os capítulos 6 e 7 da carta
aos Romanos se fundamentam sobre os eventos do Éden e da cruz, e as
conseqüências destes eventos para a humanidade.
O comentário que Paulo fez do verso 1 ao 11 demonstra que a humanidade
estava em inimizade com Deus, e que agora, por intermédio de Cristo, esta
estabelecida a reconciliação Rm 5: 10- 11.
Os versos 12 à 19 retroage no tempo para demonstrar onde toda a
humanidade passou à condição de inimizade com Deus, e como se estabelece a paz
com Deus Rm 5: 1.
Apesar de Paulo não ter citado nenhum verso da Escritura neste capítulo,
a explicação centra-se nos eventos do Éden e da cruz.
12 Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a
morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos
pecaram.
Através da desobediência de Adão o pecado entrou no mundo, e pelo pecado
(desobediência) a morte também entrou no mundo dos homens.
Lembrando: Deus havia advertido Adão a que não comesse da árvore do
conhecimento do bem e do mal, embora ele pudesse comer de todas as árvores
livremente. Adão também foi informado das conseqüências funestas se comesse da
árvore 'proibida': "...dela não comerás, pois no dia em que dela comeres,
certamente morrerás" ( Gn 2:17 ).
Adão desobedeceu, e por ele entrou o pecado no mundo. Como conseqüência
do pecado, a morte também entrou, ou seja, Adão passou a condição de morto para
Deus.
A resposta sobre como todos os homens tornaram-se pecadores encontra-se
expresso neste versículo. Observe que Paulo já havia apresentado este conceito
anteriormente (todos pecaram) ( Rm 3:23 ), mas não havia apresentado como e
onde todos pecaram. Este versículo complementa a idéia apresentada no capítulo
3.
Como o pecado e a morte entraram no mundo por meio de Adão, todos os
seus descendentes compartilham da mesma condição: são pecadores e destituídos
da glória de Deus ( da vida que há em Deus).
A condenação decorrente do pecado de Adão que passou a todos os seus
descendentes, ou seja, 'assim também a morte passou a todos os homens'.
13 Porque até à lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é
imputado, não havendo lei.
Paulo observa que o pecado e a condição de destituídos da vida que há em
Deus é anterior ao advento da lei. Como
seria possível a lei justificar se o pecado é anterior a própria lei? Ou seja,
até a lei ser dada ao povo, o pecado já estava no mundo. Como era possível ser
justificado antes da lei?
A resposta está no primeiro versículo do capítulo: "...
justificados pela fé..." ( Rm 5:1 ), pois a fé é anterior à lei, e o Autor
da fé "é" anterior a entrada do pecado no mundo.
A idéia apresentada por Paulo neste versículo é concluída no verso 20:
"Porque até à lei estava o pecado no mundo (...) veio, porém, a lei para
que a ofensa abundasse..." (v. 13 e 20). Os versos 14 à 19 compõem um
adendo explicativo sobre as conseqüências dos eventos do Éden e da cruz para a
humanidade.
A segunda parte do versículo introduz uma pergunta, e não uma conclusão
'...mas não é o pecado imputado, não havendo lei?', ou seja, o pecado estava no
mundo, e a penalidade não seria
imputada, simplesmente por não existir a lei? A resposta é conclusiva: a
penalidade foi imposta, mesmo sem a presença da lei, visto que a morte reinou
desde Adão (início) até a vinda da lei (Moisés).
14 No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles
que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura
daquele que havia de vir.
Este verso apresenta uma argumentação com base nos elementos
apresentados nos versos anteriores, ou seja, mesmo que 'o pecado é anterior à
lei', e não é 'imputado aos homens', 'NO ENTANTO...' (v. 14), a morte dominou
(reinou) desde Adão até a chagada da lei (Moisés).
A morte dominou sobre todos os homens independentemente de questões
comportamentais ou legais. Mesmo sobre aqueles que não transgrediram uma
determinação especifica, como foi o caso de Adão, a morte tinha domínio.
Paulo demonstra a fragilidade da 'sombra', ou seja, daquilo que não é a
imagem 'exata das coisas', pois a condenação se deu na 'figura daquele que
havia de vir', em Adão. O que esperar da lei, se ela não é a imagem exata da
coisas, como foi Adão? ( Hb 10:1 ).
15 Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa. Porque, se pela ofensa
de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça, que é de
um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos.
Quando Paulo demonstra que o dom gratuito não é como a ofensa, ele ainda
tem em mente o que acabou de declarar no verso anterior: "... a morte
reinou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram a semelhança
da transgressão de Adão...". A morte reinou mesmo sobre aqueles que não
pecaram a semelhança da transgressão de Adão, mas não é assim o dom gratuito.
Ou seja, para que o homem tenha acesso ao dom gratuito precisa crer
individualmente. Assim é a ofensa: o pecado atingiu a todos os homens
indistintamente, mas o dom gratuito não é assim como a ofensa: é pela fé,
mediante Jesus Cristo nosso Senhor ( Rm 5:21 ).
Observe que a negativa inicial (Mas não é assim o dom gratuito como a
ofensa), não condiz com a explicação que se segue: 'Porque, se pela...', que
apresenta uma equiparação entre os efeitos do dom gratuito e da ofensa sobre os
homens.
O versículo 15 é semelhante na construção ao versículo 13, onde a frase
inicial parece apresentar uma interrogação, onde a ofensa é um contra posto ao
dom gratuito "Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa?".
A divisão em versículos acaba por influenciar a leitura do texto. 'Mas,
não é assim o dom gratuito como a ofensa' refere-se ao versículo 14, onde
temos: "...até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da
transgressão de Adão", e não ao versículo 16.
Ou seja, o dom gratuito não é como a ofensa, visto que a morte reinou
sobre todos os homens, mesmo sobre aqueles que não transgrediram à semelhança
de Adão. O dom gratuito não é como a ofensa, porque a vida reina somente sobre
aqueles que crêem em Cristo.
O contra ponto entre ofensa e dom gratuito esta em que, a ofensa
comprometeu toda humanidade, mesmo que não tenham cometido a mesma ofensa de
Adão. Já o dom gratuito (vida) é por meio da fé em Cristo, e esta nova condição
não passa a todos os outros homens, como foi e é o caso da ofensa, em que a
morte passou e continua a passar a todos os homens que vêem ao mundo ( Rm 5:12
e 14).
O versículo introduz nova argumentação: 'Porque, se pela ofensa, de um
morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça, que é de um só
homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos'. Visto que a introdução do versículo
remete a uma 'possível' pergunta (v. 15), que já havia sido responda
anteriormente (v. 14), Paulo apresenta as bases para trazer uma nova questão:
Um homem morreu por casa da ofensa (Adão), e muitos morreram (a humanidade).
Como a ofensa impôs à morte a muitos, a graça de Deus é mais efetiva, proposta
de salvação graciosa a muitos, ou seja, a oferta do dom da graça por meio de Cristo.
16 E não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou. Porque o
juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito
veio de muitas ofensas para justificação.
Embora a ofensa e o dom gratuito não sejam semelhantes, visto que o dom
da graça não passa a todos os homens como é o caso da ofensa, segue-se que, o
dom é similar a ofensa na paridade de pessoas que ofenderam e que obedeceram:
um só pecou (Adão), e um só obedeceu (Cristo).
A ofensa é proveniente de um só que pecou, e o dom da graça é
proveniente de um só que obedeceu. Paulo demonstra que o juízo de Deus já está
estabelecido por causa da ofensa de Adão, e isto para a condenação. Porém, o
dom de Deus se manifesta sobre os pecadores (muitas ofensas) para justificação.
17 Porque, se pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais
os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por
um só, Jesus Cristo.
A graça de Deus se manifesta maravilhosamente abundante, visto que, pela
ofensa quem reinou foi a morte sobre os homens, porém, em Cristo quem há de
reinar em vida são os homens que receberam por meio da fé o dom da justiça.
A morte reinou sozinha por um único ofensor (Adão), mas os que receberam
a abundância da graça (muitos), estes reinarão por um único homem que
obedeceu(Jesus).
18 Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens
para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos
os homens para justificação de vida.
O verso 19 é o motivo da exposição do verso 18. Paulo volta a demonstrar
que uma só ofensa trouxe o juízo de Deus sobre todos os homens, e todos foram
condenados em Adão.
Conforme os eventos que decorrem da ofensa, assim também, por um só ato
de justiça a graça de Deus é concedida a todos os homens, para que estes sejam
justificados.
A condenação trouxe a morte como penalidade, e a justificação, por sua
vez, a vida. Isto demonstra que a justificação é ato de Deus contrário à
condenação. Na condenação o homem adquiriu uma natureza contrária à natureza
divina sendo declarado culpável diante de Deus, e na justificação o homem
adquire nova natureza herdada em Deus: a natureza divina, sendo declarado justo
por causa da nova vida e natureza ( 2Pe 1:4 ).
Temos: Uma ofensa e um ato de justiça; o juízo e a graça; condenação e
justificação. Paulo contrapõe estes elementos, sendo que para reverte a ofensa
de Adão, Cristo obedeceu. Para livrar o homem do juízo a graça de Deus
manifestou-se. O homem foi declarado culpado na condenação, e na justificação é
declarado justo.
Tanto na condenação, quanto na justificação a declaração de Deus diz de
condições distintas, porém, efetivas. Deus não declara condenado um justo, e
nem declara justificado alguém que ainda seja injusto.
19 Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos
pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos.
Paulo apresenta os motivos da exposição anterior: pela desobediência de
um só homem, muitos foram feitos (criados) pecadores, e da mesma forma, pela
obediência de Cristo, muitos são feitos (criados) justos.
O sentido da palavra 'fazer' deste versículo equivale ao anunciado por
João: "Mas a todos os que o receberam, àqueles que crêem no seu nome,
deu-lhes o poder para serem feitos filhos de Deus..." ( Jo 1:12 ).
O sentido da palavra 'fazer' envolve um sentido mais amplo por causa da
ação sobrenatural do poder de Deus. Ex: "Nele, digo, em quem também fomos
FEITOS herança..." ( Ef 1:11 ); "...pela qual nos fez agradáveis para
si no Amado" ( Ef 1:6 ), o que corresponde também a: "Vós também,
como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para
oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo" ( 1Pe
2:5 ).
20 Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado
abundou, superabundou a graça;
Este versículo complementa o exposto nos versos 12 e 13.
Sabemos que um homem pecou, e pelo pecado a morte passou a todos os
homens, o que leva a concluir que todos pecaram, ou que estão em pecado. Daí
advém a pergunta: Não existindo lei, o pecado não é imputado? O que a realidade
demonstra é que mesmo sem lei, o pecado é imputado, visto que, a morte reinou
sobre todos os homens, mesmo sobre os que não transgrediram a semelhança da
transgressão de Adão.
O que Paulo quis demonstrar nos versos 12 e 13? Que a lei não veio para
justificar o homem, antes ela veio para que a ofensa abundasse. Além da
condenação em Adão que já encerrou os homens na morte (porta larga), resta que,
a lei demonstra o quanto o homem é pecador, e será réu de juízo no Trono Branco
por causa de suas obras reprováveis (caminho espaçoso).
Apesar deste quadro horrível para
a humanidade, Paulo demonstra que, onde o pecado abundou, superabundou a
graça de Deus. Ou seja, não há a necessidade de se permanecer no pecado para
que a graça aumente ( Rm 6:1 ). Ela já se demonstrou abundante por meio de
Cristo nosso Senhor. Amém.
21 Para que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reinasse
pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor.
A graça de Deus é abundante para que, assim como o reino do pecado foi
estabelecido através da pena imposta à desobediência, ela também reine pela
justiça através da recompensa eterna, que é por intermédio de Cristo: a vida
eterna.
Muito bom. Obrigado pelos comentários a este capítulo tão importante.
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